Os Operários da Vila

Uma semana pesada, com a morte de um grande idolo como Chico Formiga, precisando reverter o resultado negativo do primeiro jogo. Este era o panorama do Santos antes de enfrentar o Velez ontem. O assessor de imprensa do clube argentino colocou mais lenha na fogueira, ao utilizar de humor a la Pânico para provocar o time brasileiro. O alvinegro praiano ficou mordido, mas só raiva não ganharia o jogo. Era preciso mais.

O jogo começou nervoso, como qualquer peleja desta magnitude. O time do Santos centralizava a bola em Neymar, seu craque, sua esperança, seu raio, estrela e luar. Mas no primeiro tempo da Vila Belmiro, não havia iaiá, nem ioiô. O time estava mal, afunilando as jogadas e nada dava certo.

Ganso, com palafitas no lugar de joelhos, não jogava bem. Neymar não estava nem tchu, nem tchá. Nada de passes, nem de passinhos. Marcado implacavelmente por Peruzzi, não se movimentava. Era necessária uma fagulha de genialidade para mudar o jogo. E este momento surgiu.

Elano deu um passe relembrando seus momentos com Nivea Stelmann, trespassando o muro da defesa fortinera, colocando o Sonic Caiçara frente a frente com Barovero. Neymar fez tchu, o goleiro argentino fez tcha e o juiz fez tchu tchá. Cartão vermelho para o arqueiro, por falta evitando oportunidade clara de gol.

Com um a mais, o Santos deveria dominar o jogo. Deveria. Mas futebol não é bem assim. Dalmacio Velez Sarsfield. Um dos maiores juristas argentinos, autor do Código Civil de 1869. Advogados sabem defender, e o Velez não desonra o nome que o batiza. Defende de forma compacta, leva o Santos ao desespero e utiliza recursos – limpos, leais – a torto e a direito, agravando o instrumento cardíaco da torcida na Vila Belmiro.

O primeiro tempo termina e Muricy faz aquela cara de Muricy, o enigma da rabugice anunciada. Começa o segundo tempo e o Santos pressiona através da revulocionária tática do vamo que vamo. Abafa generalizado. Cutuca que dá, diria o narrador antigo.

Muricy começa a mexer. Coloca de forma ousada Wason Rentería no jogo, colombiano que tem nome de predestinado – afinal, alguém com nome de Wason tem que merecer um bom vaticínio. Troca o inoperante Juan, o Forrest Gump do futebol brasileiro, sempe enganando em grandes clubes, pelo esforçado e velho Léo. Panela velha faz comida boa, lembram os nostálgicos.

Em um jogo desses, ser craque não basta. É preciso menos genialidade, mais cooperação. Lembrando do ídolo Formiga, é necessário que todos sejam operários. Léo, voluntarioso, arranca pela esquerda, tal como Usain, o Bolt; toca para Ganso, que não pensa em ser cisne e toca para Léo; dali para Alan Kardec, que incorpora o espírito predestinado de Wason – que não jogou nada – e balança o barbante do Velez. Santos 1 – 0. O Fortín finalmente caiu.

Mas a emoção não acabou. O resultado levou o jogo para os pênaltis. E aí brilhou a estrela do jovem Rafael. O Santos converteu todas as suas cobranças. Canteros, do Velez, isolou a sua, mas não deve se lamentar muito, porque é bem moço pra tanta tristeza. Deixemos de coisa, cuidemos da vida. E a cobrança de Papa não batizou a meta alvinegra, sendo impedida pelo arqueiro alvinegro. Habemus classificado, e é o Santos.

Com drama, sofrimento e suor, o Peixe vai às semifinais da Libertadores. Haverá duelo conhecido enre inimigos íntimos. O Estado de São Paulo por duas vezes em tempos próximos se chamará San Pablo. Os jogos dirão quem é o time copero y peleador.

Porque ontem, não foram os meninos da Vila que brilharam em campo e ganharam o jogo. Foram os operários da Vila. Cooperando entre si. Como formigas. Em memória de Chico Formiga.

Uma opinião sobre “Os Operários da Vila

  1. Mais uma vez excelente texto… sobre o jogo: O Santos não conseguiu jogar, o Vélez marcou muito Bem até quando tinha um a menos. tudo Bem que o Muricy, pratica o “Muricybol”. bola no Neymar, Mas desse jeito já ganhou o que ganhou. e o Chelsea ganhou a Liga dos Campeões desse jeito. e o futebol não perde nunca. (viu Tite?)

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