Ele não come pizza sozinho. Pra ele, pizza é sinônimo de companhia. O atestado maior de solidão é saboreá-la só. Não tem o mesmo gosto, a mesma textura, o mesmo tempero. Perde sabor. O ato da refeição solitária é pior do que colocar ketchup em cima da iguaria.
Fazia tempo que ele não a via. Sentia saudades. Entre muitas coisas, por causa dos jantares animados, da amizade, dos papos extremamente relevantes sobre tudo, inclusive nada. E sempre, invariavelmente, terminava em pizza. Pepperoni pra um lado, portuguesa por outro, com variações esporádicas.
Naqueles tempos, com muita correria, muito trabalho, tinham se afastado. Nenhuma briga, nenhum rancor, apenas o dia a dia, este vilão invisível que se alia com a ampulheta que não se cansa de girar a areia. Nunca cobrou, mas se lamentava, porque eram aqueles bons momentos que faziam valer a pena a amizade. Sentia saudade – da pizza e da conversa.
Num daqueles dias pesados e tristes de trabalho, chegou em casa chateado. Tomou uma ducha gelada, se sentou pra ver televisão, ligou em um programa de esportes qualquer, mal escutava o que dizia a locução. Em transe pra se livrar da ziquizira que foi aquele dia, só foi despertado pela campainha inesperada. Ela estava lá, com uma pizza na mão. E duas cervejas.
“Vamos conversar? Tô com saudade.”
Deliciosa sua forma de contar os causos.
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