Bola na Rede

Naqueles instantes que antecedem o jogo a ansiedade o domina. Quer ser a estrela principal, levar todos os aplausos, ser o homem do jogo, aquele que decide. Quem não quer? Amarra seu pisante com determinação. Ajeita a meia. Abrem-se as cortinas do espetáculo.

Ao lado dos seus companheiros, parte pra cima do adversário. Não tem pra ninguém. Nem Messi, Schweinsteiger, Drogba, Cristiano, Xavi. Ele é a estrela. O talento. A revelação. Com seu cabelo moicano cortado, dribla, tabela, chama a falta, cai. Ousado, alegre. Moleque.

Caminha firmemente rumo à glória. Seus companheiros de time o consideram craque. Fera. Danado. Camisa 10. Seja pela linha de fundo, seja pelo meio campo, a bola o procura. Amor eterno, amor verdadeiro, que nem a força do tempo irá destruir.

Mesmo sendo estrela, o jogo está duro. Empate. 0x0. Ninguém dá mole, nem quer perder. O futebol é a batalha da vida, o mundo dos sonhos e da democracia plena, onde o favorito pode ser derrotado e Davi ganha de cabeça a dividida com Golias. O que importa é bola na rede.

E lá vai ele, dribla o primeiro, o segundo, o terceiro, cara a cara com o goleiro e… “Joãozinho, já pra casa agora, vai estudar!”. O sonho não acaba, é apenas interrompido momentaneamente. A marcadora mais implacável, a que se preocupa com o futuro sempre, a que dá colo nos momentos duros. O grito dela é o apito final. “Já vou, Mãe!”

Na Euro da Maraponga, na Libertadores do Parcão, na Copa América do Aterro do Flamengo, na Champions League do Ibura, não importa onde for. Vão se construindo sonhos e se formando sorrisos, que desabrocham na forma de gol. Que param quando a mãe grita, mandando o menino estudar, mas voltam depois da lição de casa, para alegrar qualquer estádio, seja onde ele for.

[Publicado originalmente no blog do meu chapa Fernando Graziani, em XII.06.2012]